O erro como tabu social

Baker Street Tests
4 min readJul 2, 2023

"Eu cheguei onde cheguei porque tudo que planejei deu errado"
- Rubem Alves

Essa é uma frase que ouvi pela primeira vez há muitos anos, talvez uns 15 anos atrás? E que ficou na minha cabeça desde então.

Nos ultimos tempos, minha vida passou por inúmeras reviravoltas.

Nos último 10 meses sinto que vivi o suficiente por dez vidas. Muita coisa ruim aconteceu, muita coisa maravilhosa aconteceu também. Muita coisa boa aconteceu só porque coisas ruins aconceram, inclusive. Talvez hoje, possa dizer que o resultado, no balanço de tudo isso, foi incrível. Mas ainda assim essas coisas me fazem pensar.

Não pretendo aqui romantizar demais as coisas ruins (talvez só um pouquinho), mas paro e me pergunto um pouco, motivado em especial por uma publicação da minha grande amiga Katiana Maia, citando Charles Koch:

“Se você nunca falha, então é provável que não esteja fazendo nada.”

A reflexão que faço, é sobre a sociedade, é sobre a indústria. O quanto a gente verdadeiramente abraça os erros? O quanto a gente verdadeiramente abraça o direito de errar?

O ágil fala sobre a importância da melhoria contínua.

O Mario Sérgio Cortella que talvez nunca tenha ouvido falar do ágil tem a sua própria maneira de falar sobre melhoria contínua:

“Permanecer sempre o mesmo em um mundo em constante mudança, não é sinal de consistência, mas de tacanhisse mental.”

No ágil, assim como as entruturas de liderança mais modernas, em teoria, falam que errar é bom para aprender, para melhorar.

Mas o quanto isso é verdade? O quanto o ambiente corporativo está aberto ao erro, em aceitá-lo com maturidade para que as coisas sejam melhoradas a partir daí?

O quanto as estruturas corporativas não criam estruturas que forçam o erro a ser um ato de vergonha e medo?

O quanto a sociedade permite que o erro não seja reconhecido como um ato de vergonha e medo?

O quanto nós proprios envoltos a tudo isso. Movidos por sentimentos de insuficiência, sindromes de impostores, medos de rejeição, perfeccionismos, permitimos que nosso erro não seja reconhecido como vergonha e medo?

Penso por exemplo na anedota da nova roupa do imperador, onde todos fingiam ver uma roupa que não existia, mas que, porque os eram ditos que só os inteligentes podiam vê-la, ninguém assumia não vê-la pelo risco de serem taxados como burros em meio a tantos inteligentes.

Talvez esse seja meu texto com mais referências, mas penso também no “Poema em linha reta” de Fernando Pessoa:

“Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida.”

E as vezes quando o erro ocorre e o é dito, causa pena ou raiva ou riso. Quando penso eu, deveria gerar curiosidade científica.

Existem estudos inclusive, sobre como o comportamento que a gente tem em relação aos erros e acertos, e como os outros agem com a gente em relação aos nossos erros e acertos se relacionam com o nosso aprendizado.

Abaixo, segue um gráfico proposto pelo Management 3.0 que me ajuda a fazer um ponto: Se tivessemos a cultura de entender erros com curiosidade e vontade de entendimento de uma experimentação ciêntifica, a gente aprenderia muito mais o tempo todo. E o quanto isso é melhor do que tentar fingir ser um grande conhecedor das coisas.

Inclusive, discutir e experimentar sobre as coisas é de longe uma das maiores fontes de aprendizado:

Não pretendo aqui trazer respostas, porque não as tenho, mas gostaria simplesmente de trazer a reflexão:

O que será que nos falta e nos impede como sociedade, e nisso insiro nossas experiências pessoais e profissionais (se é que é possível fazer uma distinção) para de fato entender o erro como uma tentativa, como uma experiência a ser estudada, investigada e incentivada para a tal da melhoria contínua ao invés de gerar raiva ou pena ou riso que nada gera além de medo e vergonha. Se já sabemos que mudar essa postura é tão importante?

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